[ARTIGO] RELATO DE UM AUTOISOLAMENTO POR SUSPEITA DE CORONAVÍRUS

by - março 22, 2020


Olá, pessoal. Decidi escrever para vocês um relato de meu autoisolamento desde sexta (20/03/2020) por causa da pandemia de coronavírus. Moro em uma cidade do interior de São Paulo, cerca de 300 km de distância da capital (o epicentro da crise sanitária brasileira) e estava trabalhando normalmente, lavando as mãos com água e sabão várias vezes ao dia e também adquiri álcool em gel para desinfetar superfícies que tocamos com frequência, inclusive celular e óculos, e as mãos quando tinha que andar na rua e ir a algum lugar, como farmácia ou supermercado. Estava evitando lugares fechados, como restaurantes e cinema, mas o atendimento já estava começando a ficar contido desde o início da semana.
A minha preocupação maior era com meus pais idosos, com quem vivo, e estavam viajando para a Bahia desde o dia 12/03/2020. Como já havia casos confirmados no país, eles levaram álcool em gel e tentaram se cuidar, mas passaram pelo aeroporto internacional de Guarulhos em São Paulo, tanto na ida quanto na volta, assim como no aeroporto de Salvador. Ambos estão no grupo de risco e foi uma semana tensa e ansiosa com a espera da chegada deles, que se deu dia 18/03/2020, com atraso de 12 horas devido a medidas quanto à pandemia. 
Fui buscá-los no aeroporto de Ribeirão Preto e evitamos contato físico. Eu me assustei que minha mãe estava usando máscara cirúrgica, tossindo e rouca, reclamando um pouco de dor de garganta e no peito, provavelmente devido à tosse persistente. Um alerta se acendeu em mim. Ela disse que estava com os sintomas desde o segundo dia de viagem, que acreditava que fosse devido ao cheiro forte de mofo na pousada em que dormiu em Costa do Sauípe. Ela não apresentou febre nem dores no corpo, portanto, começamos um isolamento de 15 dias devido à viagem. Meu pai não apresentava nenhum sintoma. 
No entanto, de quinta para a sexta, ela não conseguia dormir com dificuldade de respirar e muita tosse. Eu a levei à emergência do plano de saúde e fui proibida de entrar e acompanhá-la sequer na recepção. Minha mãe foi atendida sozinha depois de uma espera de quase uma hora e eu esperei em pé na calçada, falando com meu namorado ao telefone para me distrair. Ela voltou com máscara e recomendação de quarentena, inclusive isolamento social e de utensílios de uso individual dentro de casa, receita de antialérgico e foi listada como suspeita de estar portando o vírus. Importante: não fizeram o exame, portanto, não sabemos se ela realmente pegou. Em caso de apresentar sintomas graves, ela deveria ser levada imediatamente para a emergência. 
Automaticamente, entrei em quarentena com eles a fim de não propagar o vírus, caso eu também fosse contaminada por contato social. Minha mãe estava dormindo sozinha na suíte, comprei um inalador para ajudá-la a descongestionar, ela tomou xarope para a tosse e antialérgico para amenizar os sintomas. Eu estava desinfetando a casa, principalmente as áreas que tocamos frequentemente, com álcool em gel 70%, água sanitária nos banheiros e desinfetante no chão. Continuamos evitando o contato físico. Meu pai continuava sem sintomas, a não ser uma coceira que é característica de sua alergia que não ataca vias respiratórias, e eu com uma leve alergia (coceira no nariz), mas já estava antes de eles chegarem de viagem. 
Alimentamos-nos com alimentos naturais, verduras e legumes, muitos alimentos crus, frutas e sucos naturais, chás e muita água. Chás demos preferência ao de hortelã, que é refrescante, e de gengibre, e vimos melhora de um dia para o outro com a medida. Isso ajudou a fortalecer nosso sistema imunológico para combater a doença, caso estivéssemos mesmo portando o vírus. Como disse acima, não há confirmação. Continuei lavando as mãos constantemente com água e sabão. 
Quando o período de quarentena acabar, poderemos sair de casa, mas a preocupação continuará a mesma, ainda mais porque não sabemos se realmente estávamos ou não portando o vírus. Nos noticiários só os ricos e famosos estavam fazendo exames e sendo confirmados, mesmo sem sintomas, ou fazendo mais de um exame. Isso se dá porque não tinha exame para todo mundo, então deviam estar priorizando os epicentros da doença e os com sintomas graves, no caso nosso, meros mortais pobres e assalariados. 
Infelizmente comecei a apresentar sintomas leves após 5 dias de contato com a minha mãe, como é esperado para quem contraí a covid-19. Tive coriza, um pouco de tosse, temperatura oscilando perto dos 37 graus (mas sem febre), desidratação e cansaço físico diante de qualquer pequeno esforço. Incluímos o uso de Vick no peito e nas costas para ajudar a limpar as vias respiratórias e seguimos monitorando. Meu pai demorou um pouco mais, porém, começou a apresentar sintomas leves também, como tosse e espirro. Não fomos ao hospital porque estamos bem e seguimos nos cuidando. 
Nossa quarentena terminou no dia 04/04/2020. Minha mãe melhorou do como estava na primeira semana, mas ainda tinha sintomas. A doença é muito forte, altamente contagiosa e os sintomas persistentes. Fiquem em casa, em isolamento. O governo há de prover renda básica e seu patrão é obrigado a pagar seu salário. Saiam somente em caso de necessidade. Isso é muito sério. O vírus é transmitido pelo ar. Vamos conter o vírus agora antes de seu pico em abril para que o sistema de saúde não colapse. Não se esqueçam que temos outras doenças e atendimentos em curso. Se colapsar, torçam para que ninguém de sua família sofra de nenhuma enfermidade, porque será difícil ter atendimento. 
FIM DA QUARENTENA! Desde terça (31/03/2020) vinha sentindo melhora nos sintomas, assim como meus pais, mas como oscila, esperei que se concretizasse. Ontem a gente estava 100% e foi ao mercado fazer compras com máscaras. 
O pior da quarentena é a quarentena. Não via a hora de poder pisar fora de casa, sentir o vento no rosto e me diverti até com os cabelos esvoaçando com os vidros do carro abertos. Parece bobo, mas a gente começa a dar valor às pequenas coisas e as pequenas liberdades que no dia a dia não prestamos atenção. 
Ponto negativo e estressante e causador de várias crises de ansiedade: conviver com um fanático seguidor do presidente negacionista da crise sanitária. No final de semana finalmente fiquei com meu noivo depois de dois pedidos de casamentos e encontros à distância. 
Os cuidados não acabaram. Continuarei usando máscaras fora de casa, mas vou providenciar de tecido para quando elas acabarem. Manter a barreira de proteção contra gotículas e partículas deve ser preocupação de todos. Providenciem também e nunca saiam de casa sem álcool gel. Cuidem um do outro e principalmente da mente. É isso! Um bom isolamento para vocês. 
Minha mãe resolveu pagar do próprio bolso por um teste de Covid-19 em 26/06/2020 porque o plano de saúde não quis fazer nem com indicação médica. Ela solicitou atendimento porque estava sentindo falta de ar e pensamos que fosse sequela da doença. Os exames médicos deram todos normais, o que leva a crer que pode ser psicológico. O teste que ela fez no laboratório de análises foi de sangue para verificar os anticorpos presentes. O resultado saiu em duas horas e deu negativo, tanto para anticorpos atuais ou antigos. Se não foi Covid-19, talvez tenha sido H1N1, uma gripe diferente de outras que pegamos, mas que tem sintomas parecidos. Os cuidados continuam. 
Quero deixar aqui um apelo final: tomem todas as precauções. 80% das pessoas não vão ficar doentes, e parte nem vai apresentar sintomas, mas 20% podem morrer. Não deixem os idosos saírem de casa até a pandemia ser controlada. Saíam somente em caso de necessidade e portem álcool em gel (ou lave as mãos com água e sabão antes de levar ao rosto). Evitem aglomerações ou mesmo grupos, principalmente em locais fechados. Deixem para visitar parentes e amigos depois que tudo isso passar. Não é alarmismo. Os casos estão dobrando de 3 em 3 dias e o sistema de saúde, que já é deficiente, não vai dar conta de atender a todos e entrará em colapso. Então veremos casos como o da Itália, com pessoas morrendo em suas casas e esperando dias para os corpos serem buscados. 
Sabe o que é pior disso tudo? Nós vimos a China combater, a Coreia do Sul e o Japão, assistimos o caos em alguns países da Europa e até nos Estados Unidos, e não nos preparamos. Sabíamos que uma hora chegaria aqui. Só demorou porque estamos geograficamente distantes. Mas com esse desgoverno, que minimiza a crise e faz chacota com algo tão grave, o que percebemos é o óbvio: ele não se importa com os pobres e os idosos que irão morrer nessa pandemia. 
As vidas das pessoas valem mais que o dinheiro dos ricos. Fiquem em casa para ajudar a não espalhar o vírus e chegar, por exemplo, em lugares que nem tem saneamento básico. Será um massacre! Sejamos solidários. Pensemos no próximo.

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